Aos 35 anos Sara estava grávida de gémeos e, aquando da segunda ecografia, foi diagnosticado que um dos gémeos tinha defeito congénito fatal, chamado anencefalia, pois não tinha desenvolvido parte do cérebro, mas o outro gémeo parecia estar saudável.
O casal, assolado pelo diagnóstico, foi invadido por uma série de sentimentos e perguntas sobre o que poderia ter acontecido e, como não havia nada a fazer para evitar a tragédia, começaram a pensar numa forma de fazer com que a breve vida de Thomas pudesse ter algum sentido.
Tentaram aprofundar a temática da doação de órgãos, olhos e tecidos e estabeleceram contactos para o efeito. Foi, então, que a Comunidade Regional de Transplante de Washington – WRTC explicou ao casal que Thomas seria, provavelmente, muito pequeno ao nascer para doar órgaos, mas seria um bom candidato para investigação. Essa possibilidade foi bem foi bem acolhida, e ressignificou o momento de dor, pois em vez de verem o Thomas como uma vítima, começaram a vê-lo como um eventual contributo para o desenvolvimento de pesquisas científicas na área da medicina.
Os gémeos nasceram, ambos vivos, a 23 de março de 2010 e Thomas acabou por falecer seis dias depois. O sangue do seu cordão umbilical foi para a Universidade de Duke; o fígado para a Cytonet, em Durham, cujo âmbito de atuação é a terapia celular; as córneas foram para o Instituto de pesquisa de olhos de Schepens, pertencente à Universidade de Harvard, e as retinas foram para a Universidade da Pensilvânia.
A família realizou o Funeral a Thomas para apaziguar a dor e encerrar o capítulo, mas a pergunta “Terá valido a pena ter feito a doação?” surgia com frequência.
A Instituição WRTC - Washington Regional Transplant Community convidou o casal para realizar um retiro de luto e, a partir daí, foram obtendo a resposta que tanto desejavam. Conheceram cerca de 15 outras famílias que tinham doado órgãos dos seus entes queridos para transplante, e alguns deles até já tinham recebido cartas das pessoas que tinham recebidos esses órgãos, a agradecer.
Á medida que foram mergulhando no tema da doação de órgãos, e estabelecendo contactos, foram percebendo o impacto da decisão que tomaram e de como Thomas estava a ser importante para o avanço da ciência.
Uma das investigadoras chegou mesmo a partilhar com o casal, que os tecidos já tinham sido pedidos ao Intercâmbio de Investigação Nacional de Doenças, seis anos antes, e que só os de Thomas encaixavam nos critérios, sendo mesmo muito raros. Manifestou um sentimento de apreço pela doação, mas ao mesmo tempo de culpa, por estar a desenvolver experiências com a criança, e que não conseguia imaginar como os pais se deveriam estar a sentir.
Perante esse discurso e desabafo, o casal respondeu que, se ela não tivesse querido essas retinas, provavelmente elas estariam enterradas, e que o facto de poder participar e contribuir para o seu estudo dava um novo significado à vida de Thomas, pelo que não se devia sentir culpada!
Esse momento foi gratificante para todos e contribuiu positivamente para criar um sentimento de pacificação e alívio, pois a investigadora confessou que nunca tinha olhado para a situação de acordo com a perspetiva do casal.
Sara termina a sua apresentação com a mensagem de que nunca tinha pensado em doar órgãos, mas que foi uma experiência muito agradável e que levou Paz à sua família. A decisão que tomaram transformou uma vida, que antes parecia breve e insignificante, numa vida vital, eterna e relevante!
Este relato é, sem dúvida, impactante e comovente, fazendo-nos refletir sobre a forma como cada Ser Humano pode fazer a diferença no Mundo, ressignificando os acontecimentos, até mesmo nos momentos mais difíceis, e de profunda tristeza.
VoltarFontes:
- Sarah Gray | REDMED 2015 - How my son's short life made a lasting difference
- https://www.ted.com/talks/sarah_gray_how_my_son_s_short_life_made_a_lasting_difference